O autor
Meu nome é Cezar Tridapalli e nasci em 1974, num bairro discreto – Vila Hauer – de uma discreta capital brasileira, Curitiba.
Nasci em meio a uma ditadura da qual pouco lembro, mesmo sendo filho de militar.
Estudei quase sempre em instituições públicas, do ensino básico à universidade.
Ao contrário de grande parte dos escritores, que são ruins de bola e compensavam suas inabilidades motoras da infância lendo grandes livros, eu jogava bem e, também por isso, tornei-me um leitor tardio. Enquanto alguns leram Kafka com 8 anos, nessa idade eu só conhecia O cachorrinho Samba na floresta, da Maria José Dupré.
Como boa fatia dos adolescentes, minha entrada na literatura se deu pela porta da poesia, e da poesia presente nas melhores letras da Música Popular Brasileira. Arrisquei meus poemas (“Passando por becos e avenidas / entre megeras e queridas / nos ficam sensações / de que são ódios e paixões / que movem nossas vidas” foi o primeiro dos parcos e pobres poemas que escrevi. Nesse aí eu tinha uns 14 anos).
Dois outros fatores desencadearam meu interesse pela literatura. Curiosamente, os dois são jeitos pouco prováveis de aproximar jovens dos livros: leitura obrigatória na escola e um livro didático. Ter estudado a Semana de Arte Moderna foi importante para que, momentos antes da inscrição no vestibular de Direito, eu enviesasse para Letras. Foi em Letras que me formei, pela Universidade Federal do Paraná, pouco depois de ter concluído o Curso de Formação de Oficiais do Corpo de Bombeiros. Formei-me oficial, mas logo saí.
As aulas de Teoria da Literatura com o professor e escritor Paulo Venturelli foram o momento da virada definitiva. Hoje sou seu amigo e compartilho com ele minhas escrevinhações. Tornei-me um leitor mais frequente, embora sempre insatisfeito com meu jeito lento de ler as coisas e com minha incapacidade de lembrar os enredos, os personagens. Especializei-me em Leitura de Múltiplas Linguagens, na PUCPR, e fiz um mestrado em Estudos Literários, na UFPR, com a dissertação De luzes e de sombras: jogos barrocos em contos fantásticos, que me abriu a oportunidade de trabalhar com tradução logo depois, vertendo do italiano para o português a obra O fantástico, de Remo Ceserani.
Trabalhei como professor em vários níveis de ensino, fundamental, médio, superior, pós-graduação, mas resolvi sair da sala de aula, pois constatei que, no meu caso, a atividade de professor de literatura paradoxalmente matava a minha atividade de leitor, entre outros cansaços e neurastenias típicas da profissão. Trabalhei 19 anos em um colégio jesuíta em Curitiba, dando aulas, coordenando um departamento de Arte e Cultura e, depois, um setor chamado Midiaeducação. Lá, entrevistamos escritores, fizemos festas literárias com grandes nomes da literatura curitibana e brasileira, tentamos levar as novas e as velhas mídias para conversar com crianças, adolescentes e jovens.
Não sou muito original quanto às minhas principais leituras, aquelas que me influenciaram: o humor elegante de Machado de Assis e Lima Barreto, mais o Graciliano Ramos e, embora muito longe em termos de estilo, também o Guimarães Rosa. Gosto da poesia cerebral do João Cabral de Melo Neto. Manuel Bandeira e Drummond também são belezas evidentes. Temos muitos poetas e prosadores vivos que são tão bons quanto os cânones. Só em Curitiba existe um punhado, mas não quero ser acusado de corporativismo (viu como nós, curitibanos, somos? Temos vergonha de nos mostrar, afinal, o que os outros vão pensar? E se eu deixo alguém de fora da lista?). Dos estrangeiros, gosto do Philip Roth, do Ian McEwan, do Dino Buzzati, do Dostoievski, Amós Oz… Gosto de ler não ficção também.
Recentemente, fiz uma pós em Psicologia clínica: abordagem psicanalítica (PUCPR). Agora, faço estudos de formação em psicanálise. Trabalho com oficinas de criação literária e voltei a traduzir. Em geral, obras de filosofia, literatura, psicanálise. Dei aulas de Experiência Estética em curso de pós-graduação em Comunicação e Cultura da Universidade Positivo e, em 2020, trabalhei com o módulo de Literatura e Psicanálise, em outro curso de especialização, desta vez na PUCPR. Sou ainda diretor executivo do Litercultura Festival Literário.
Em 2011, lancei meu primeiro romance, Pequena biografia de desejos, pela editora 7Letras. O livro repercutiu de forma positiva em Curitiba. Fiquei feliz com a trajetória que o romance percorreu, principalmente por eu ser um desconhecido no meio literário.
No primeiro semestre de 2012, escrevi O beijo de Schiller, romance que venceu o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura. A primeira versão foi escrita em 40 dias ao longo de 2 meses. As revisões, no entanto – releio e reescrevo pelo menos umas cinco vezes –, demoraram bem mais, a ponto de eu quase perder o prazo de envio para o Prêmio MG, em 2013. Mas deu certo, ainda bem.
De 2014 a 2016, trabalhei exaustivamente em meu terceiro romance, Vertigem do chão, que veio a público em novembro de 2019 e, em 2021, apareceu em uma lista dos livros mais marcantes da década.
Seja bem-vinda, seja bem-vindo, obrigado pela visita.
Cezar Tridapalli