Atendimento
É fácil entender que há coisas que sabemos que sabemos. Igualmente fácil é saber que há coisas que sabemos que não sabemos. Até conseguimos intuir a ideia de que há coisas que não sabemos que não sabemos. A psicanálise, no entanto, investiga aquilo que não sabemos que sabemos e que nos aparecem como “estranhos familiares”, que podem surgir como sintomas no corpo, compulsões, um modo específico de raciocinar, uma forma de tomar ou não decisões etc., e que provocam algum tipo de sofrimento psíquico.
A psicanálise funda-se sobre uma ética, que, sim, relaciona-se à confidencialidade, mas diz respeito sobretudo à busca pelo bem dizer, que é, em última instância, a direção do desejo.
Os primeiros encontros em geral consistem em entrevistas preliminares, a fim de que o/a analisando/a fale sobre o que provocou sua busca, as dificuldades, os conflitos, sintomas de seu sofrimento. Cabe ao analista compreender as demandas da análise, avaliar a função transferencial e propor a continuidade ou não das sessões. Caso ambos decidam pelo prosseguimento, a livre associação será condição fundamental para que o sujeito do inconsciente emerja e ganhe corpo um conhecimento até então não sabido.
Lacan, seguindo a trilha de Freud, mostra que o tempo do desejo é sempre um tempo que implica o risco de se perder, de se diluir, de se desadaptar em relação a uma administração regular, conformista, ordinária, da própria vida. – Massimo Recalcati
É preciso sim revisitar a cena traumática, seja ela qual for, revisitar os lugares e as origens, mas para poder ir alhures, do lado do desejo que é sempre abertura para o futuro, para o projeto. – Radmila Zygouris