Uma teia delicada de desejos e esperanças marca o romance de estreia do autor.

Desejar, desiderare. De quantas formas podemos manifestar o desejo? Convém, às vezes, reprimi-lo?

O romance Pequena biografia de desejos trata do desejo humano na figura de um inusitado protagonista: Desidério Santos dos Santos, porteiro de um edifício que, desde a juventude, tem veleidades literárias e vive sua vida cindida entre a banalidade cotidiana e os desejos internos que empurram os seus dias para frente e o fazem sonhar.

A trajetória do personagem surge para o leitor de maneira não linear e vai sendo entrecortada pela presença de outros personagens que, ao mesmo tempo em que têm suas histórias próprias de vida, exercem de maneira involuntária influências decisivas na vida do porteiro. Santiago Bettencourt, de quem o protagonista herda involuntariamente uma biblioteca, Adele Giordano, a desvairada bebedora de vinhos, o tio Cevício, militar obcecado, Macária, esposa inerte, são alguns dos personagens que gravitam em torno de Desidério e que lhe acentuam o contraste entre o real e o ideal.

Nessa teia entre personagens e acontecimentos, o romance se desenvolve procurando borrar os limites entre o trágico e o cômico das diversas situações e, em última instância, da vida inteira dos personagens, sobretudo do protagonista, um discreto apaixonado pela vida e movido pelo desejo de um porvir cheio de “realizações idealizadas”.

Pequena biografia de desejos coloca em questão – e de um jeito todo peculiar – as discussões mais caras à humanidade, como o amor, a vida, a morte e todos os seus tantos derivados, como a morte em vida, os projetos adiados (para sempre? para nunca?), as máscaras atrás das quais os personagens se escondem, entre outros tantos temas que podem ser despertados no leitor.

Fonte: O Estado do Paraná.