Entre 12 e 16 de agosto, aconteceu em Curitiba a sétima edição do Litercultura Festival Literário. Com direção executiva de Cezar Tridapalli, direção geral de Manoela Leão, curadoria de Manuel da Costa Pinto e direção de produção de Luiz Henrique Tovar, o festival trouxe para a discussão o tema das fronteiras:
Precisamos de fronteiras para saber quem somos, mas ao mesmo tempo precisamos do outro, essa entidade que nos devolve em espelho uma identidade que vai além do documento-registro-geral-cadastro-de-pessoa-física-cpf-na-nota?. Assim como temos um corpo que nos define, assim como temos uma subjetividade que nos faz ser lá onde pensamos e onde não pensamos que pensamos, nossos limites se abrem para o mundo, porosos, precisando, acolhendo outras subjetividades, formadas por tantos outros encontros.
Literatura, por sua vez, é zona de conflito, é sempre situação-limite, é experiência adensada pelo encontro e desencontro do sujeito com esse outro, estrangeiro sempre, que obriga a um deslocamento, a uma travessia. Reunir a literatura feita em diversos países e contextos é a proposta do Litercultura Festival Literário em sua edição 2019, que traz, entre os dias 12 e 16 de agosto, na Capela Santa Maria, em Curitiba, 5 autores e 4 nacionalidades para compor um mosaico possível da literatura contemporânea face às questões urgentes da imigração e da proteção bélica das fronteiras.
Veja quem esteve conosco:
– 12/8: Patrícia Campos Mello (Brasil): É formada em jornalismo pela USP e mestre em Business and Economic Reporting pela New York University. Foi correspondente em Washington do jornal O Estado de S. Paulo e atualmente é repórter especial e colunista da Folha de S. Paulo. É autora de Lua de Mel em Kobane e vencedora de diversos prêmios jornalísticos, entre eles o Prêmio Internacional de Jornalismo Rei de Espanha, em 2018. Lua de mel em Kobane “conta a improvável história de um casal de sírios que, separados por 2,5 mil quilômetros, se apaixonou pela internet e arriscou a vida ao decidir se instalar na cidade de Kobane, sitiada pelo Estado Islâmico” (Companhia das Letras).
– 13/8: Leonardo Padura (Cuba): Nascido em Havana, Leonardo Padura é pós-graduado em Literatura Hispano-Americana, romancista, ensaísta, jornalista e autor de roteiros para cinema. Ganhou reconhecimento internacional com a série de romances policiais Estações Havana. É colunista da Folha de S. Paulo e colaborador do El País. Tem nove livros traduzidos no Brasil, com destaque para O homem que amava os cachorros, obra em que o autor narra a história do assassinato do líder soviético Leon Trótski, valendo-se para isso de três narradores, entre eles assassinado e assassino. Padura é autor premiado internacionalmente – Prêmio Nacional de Literatura de Cuba e o Princesa de Asturias.
– 14/8: Bernardo Carvalho (Brasil): Um dos mais destacados romancistas da literatura brasileira atual, o escritor nasceu no Rio de Janeiro e vive atualmente em São Paulo. Autor de mais de dez obras, recebeu diversos prêmios entre os mais importantes da literatura em língua portuguesa, como o Jabuti, APCA e Portugal Telecom. O filho da mãe, romance de 2009, por exemplo, narra a trajetória de muitas mulheres, mães, que buscam “livrar seus filhos da guerra, da solidão e do crime” (Companhia das Letras). Os personagens transitam por vários espaços do globo, do Oiapoque ao Nieva, de Grozni ao mar do Japão. São filhos extraviados de mães aflitas e pais autoritários ou ausentes.
– 15/8: Juan Cárdenas (Colômbia): Juan Sebastián Cárdenas nasceu em Popayán, na Colômbia. É tradutor e escritor, ainda sem tradução no Brasil, premiado em 2014 por sua obra Los estratos (prêmio Otras Voces, Otros Ámbitos). Sua obra mais recente, El diablo de las províncias, “volta a questionar os mantras de uma civilização homogeneizada em uma novela que trabalha com gêneros híbridos”. A obra de Cárdenas põe em evidência “o colonialismo e o racismo, todas as selvagens domesticações privadas e públicas, que constituem preocupações importantíssimas para a interpretação da cultura” (Marta Sanz, para El país).
– 16/8: Igiaba Scego (Itália): “Igiaba Scego nasceu em Roma em 1974, de família de origem somali. Depois de se formar em literatura estrangeira na Universidade La Sapienza, em Roma, escolheu trabalhar como jornalista e escritora, colaborando com jornais como Il Manifesto e Internazionale, e também com revistas que lidam com assuntos muito próximos dela: imigração e cultura africana. Como autora, ganhou vários prêmios e participou de inúmeros eventos, incluindo o Festival de Literatura de Mântua, que a hospedou em 2006” (Editora Nós). No Brasil, temos Minha casa é onde estou e Caminhando contra o vento.
Os autores falaram ao público do Litercultura a partir de um texto autoral, por meio do qual discutiram seus pontos de vista específicos sobre o tema. Todos os textos, de formatos diversos – ensaio, depoimento, texto ficcional – foram reunidos no livro Fronteiras: territórios da literatura e da geopolítica, publicado pela Editora Dublinense.
As conferências foram mediadas por jornalistas e professores de reconhecida inserção no tema e na obra dos autores.
Além das conferências mediadas, o Litercultura 2019 contou com uma programação integrada, que envolveu venda de livros, gastronomia e apresentações de música, poesia, teatro e mostra de cinema, todas relativas ao tema do evento: literatura e fronteiras.
A programação pode ser vista em http://www.litercultura.com.br/2019-2/
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