“O livro agrada muitíssimo porque traz a leveza como uma de suas marcas fundamentais, tal como indicada por Italo Calvino em Seis propostas para o próximo milênio. E os procedimentos narrativos dos quais o autor lança mão para atingi-la em nenhum momento vacilam ou sinalizam falta de profundidade.”
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“Muita coisa acontece, mas sempre com o olhar do narrador, que é muito pirandelliano, capaz de induzir à comoção, ao mesmo tempo em que nos faz perceber o ridículo de cada situação. Estamos, quase sempre, diante de situações em que um olho chora ao mesmo tempo em que o outro ri. Enfim, a palavra-chave para melhor traduzir o que senti pulsar na obra:ambigüidade, construída por meio de uma refinadíssima ironia”.
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“Às biografias dos personagens que abrem vários capítulos se juntam todas as outras que, a um certo ponto, se tocarão para preencher o desenho do mosaico final, uma vivíssima composição, plena de diversidade e histórias que se comunicam, que se entretecem”.
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“Impossível não notar, em Pequena biografia de desejos, o diálogo intertextual que se estabelece com o grande romance de Dino Buzzati: O deserto dos tártaros. Desidério – o protagonista do romance – resiste em sua guarita de porteiro, tal como Giovanni Drogo, de Buzzati, no forte Bastiani. Ambos, cada qual com seu desejo, esperam pela batalha final… Toda uma vida à espera…”
(Maria Célia Martirani é escritora, doutora em Literatura da USP, autora de Para que as árvores não tombem de pé (contos) – Travessa dos Editores).
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