“Romances de estreia, em geral, são aqueles que depois da maturidade o escritor se arrepende e recusa a paternidade. E esta é a primeira grande qualidade do romance de Cezar Tridapalli: é um livro maduro, envolvente, de um vigor narrativo que só encontramos em escritores com mais tempo de estrada. Mas as qualidades vão além. É um olhar singular sobre o Brasil, a partir de Curitiba, esta cidade que desde Dalton Trevisan soube construir uma escola literária muito peculiar, de distanciamento, racionalidade e um fino humor.”
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“Nesta tradição, Pequena biografia de desejos apresenta tanto o Brasil privilegiado quanto o país de uma imensa maioria de trabalhadores anônimos, aqueles que dificilmente são protagonistas do imaginário da classe leitora brasileira. Mas não se engane: não é um romance dedicado à pedagogia ou à defesa de bandeiras políticas — como toda grande literatura, o livro de Tridapalli aposta, como fio narrativo primordial, na investigação da condição humana mais atemporal e mais livre de demonstrações de teses ou teorias.”
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“Finalmente, é um livro escrito dentro da tradição literária contemporânea mais preocupada em saber contar uma boa história do que em revolucionar a linguagem — do mesmo modo que escritores como Ian McEwan, Philip Roth ou J.M. Coetzee, Tridapalli não está buscando a ruptura formal obstinada, talvez porque hoje, mais do que em qualquer momento do século passado, desconfiemos da eficiência da vanguarda. O incômodo, aquilo que a grande literatura descortina, pode estar em qualquer plataforma, inclusive apartada da vanguarda. E como qualquer escritor sabe, não há nenhuma facilidade aqui: saber contar uma boa história, com ritmo e vivacidade, é algo muito difícil. Por isto mesmo, a estreia de Cezar Tridapalli não passará desapercebida”.
(André Tezza Consentino é publicitário, professor de Ética Publicitária e coordenador do Curso de Publicidade da Universidade Positivo, em Curitiba. Especialista em Leitura de Múltiplas Linguagens, é mestrando em Filosofia – UFPR).
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