Em duas oportunidades, Pequena biografia de desejos aparece no rol do que foi produzido de melhor em 2011. O cineasta Eduardo Baggio e a jornalista Mariana Sanchez fizeram suas listas. Acompanhe:
Eduardo Baggio:
Já que é mote de fim de ano falar o que de melhor aconteceu, aí vão minhas impressões sobre 2011:
Melhor filme: “Pater”, dirigido Alain Cavalier e “Vou rifar meu coração”, da diretora Ana Rieper
Melhor filme curto: “Ovos de dinossauro na sala de estar”, do Rafael Urban
Melhor livro: “Pequena Biografia de Desejos”, do Cezar Tridapalli
Melhor peça: “Os Altruístas”, texto de Nicky Silver e direção de Guilherme Weber
Melhor programa de rádio: “Radiocaos” www.radiocaos.com.br (esse acho que é o melhor de sempre e pra sempre)
Melhor CD: “Introdução à cortina do sótão”, do ruído/mm
Melhor clipe: Beastie Boys – Fight for your right www.youtube.com/watch?v=evA-R9OS-Vo
Melhor show: Sonic Youth (SWU) e Wolf People (Roundhouse)
Melhor programação geral: as dos Sescs de SP
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Já Mariana Sanchez, em seu www.orelhadolivro.com.br, destaca a produção literária paranaense em 2011. Fala de Pequena biografia de desejos e também da FLIM, a Festa Literária do Medianeira, evento com curadoria geral de Cezar Tridapalli. Confira abaixo a reprodução integral do post.
2011 foi um ano bem especial para a literatura paranaense e tudo o que gira em torno dela: testemunhamos o nascimento do jornal da Biblioteca Pública do Paraná, o simpático Cândido, e o renascimento do projeto Um Escritor na Biblioteca; aplaudimos a conquista de dois prêmios Jabuti por dois curitibanos – na verdade, um deles radicado aqui -, Dalton Trevisan e José Castello; presenciamos a estreia da FLIM, como ficou conhecida a Festa Literária do Colégio Medianeira; conhecemos a nova livraria Arte e Letra e a primeira livraria Cultura de Curitiba – o paraíso distribuído em três andares.
Mas, para mim, o ano não teria o menor sentido sem a leitura destes livros:
Manual de putz sem pesares, de Luiz Felipe Leprevost (Editora Medusa, 2011)
“Para mariana, meus pequenos filminhos de terror”. Essa foi a dedicatória que o Leprevost escreveu na primeira página do livro, antes de entregá-lo para mim, numa tarde de janeiro no Lucca Café, antiga sede da Livraria Arte e Letra – mas poderia ter sido no Chuvaimóvel Café. E os 30 contos que ele nos apresenta são exatamente isso: filminhos de terror, na melhor atmosfera pulp: mistura de filme noir com pornochanchada brasileira. Sim, a clássica literatura de banheiro, e o que há de errado nisso? Afinal, “há momentos em que tudo o que um cara precisa é um pouco de pinga, coca e dança erótica”, como diz o conto homônimo dessa coletânea safada.
Amanhã. Com sorvete!, de Assionara Souza (7 Letras, 2010)
Ok, o livro é do ano passado. Mas meu primeiro contato com ele foi em abril de 2011, durante uma das leituras do projeto EntreMundos. Ou seja, antes de ler eu OUVI o texto de Assionara em voz alta, e é como devem ser lidos estes contos incrivelmente poéticos, sonoros, sensoriais. De Caicó a Curitiba, onde vive há mais de 2 décadas, Assionara imprimiu um estilo único à literatura “feita aqui”. Seu texto tem sabor, como um delicioso sorvete, provocando sensações diferentes a quem prová-lo com a ponta da língua. Os contos “Amoras frescas” e “Dentro da coisa” têm aquele tom melancólico sem perder o fino humor, como nos filmes da Miranda July. Por sinal, cinema aqui não falta. A começar pela divertida epígrafe do Jim Jarmusch.
Ocupado, de Adriano Esturilho (Editora Medusa, 2011)
Coleção de histórias curtas, sonoras, fragmentadas, experimentais, ambientadas em Curitiba, situadas entre a insônia e o pesadelo. Espécie de Georges Perec local, Esturilho cria uma obra onde a forma é revolucionária, anárquica e muito mais importante que o conteúdo. Para além do elaborado jogo de palavras, a nostalgia do Concretismo e do rock oitentista, Ocupado é uma jornada madrugada adentro pela cidade “pseudo-cosmopolita”, onde as notícias mais desgraçadas sempre chegam por telefone.
Pequena biografia de desejos, de Cezar Tridapalli (7 Letras, 2011)
Único romance da lista, o livro do Tridapalli é uma das melhores estreias literárias que já tive o prazer de ler. Maduro, profundo, envolvente e bem escrito são algumas das qualidades dessa pequena biografia, que narra a história do porteiro Desidério, aspirante a escritor. E agora você deu um longo suspiro, achando tedioso e previsível o fato de um livro de estreia tratar do próprio ato da escrita. Vá por mim, a obra é excelente, crítica, questionadora e cheia de sensibilidade. E mais que isso eu não digo, porque em breve sai a resenha que escrevi pra revista ler & Cia ;D
Nós passaremos em branco, de Luís Henrique Pellanda (Arquipélago editorial, 2011)
Um dos últimos que li neste ano, e é como se fosse um presente: o novo do Pellanda é, para mim, o grande livro de 2011. Entre 2009 e 2010, o autor publicou suas narrativas às quintas-feiras no site Vida Breve, que encerrou em 2011. As melhores crônicas foram selecionadas, algumas reescritas, outras renomeadas – uma acrescentada – e, agora, aparecem lado a lado neste volume. Lidas em sequência, elas formam o painel mais autêntico, atual e sombriamente poético de Curitiba, como um dia o fez Dalton Trevisan. Tudo acontece ali, entre as praças Osório e Santos Andrade, onde se espalham personagens invisíveis, demoníacos, ordinários: o homem com a menina no colo, os chupa-latas, o velho evangélico de coturnos, os fantasmas que assombram um edifício da Ébano Pereira, a Pequena Sereia da Boca Maldita. Flanar pelo centro da cidade nunca mais vai ser como antes, depois de ler as crônicas do Pellanda.
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